sábado, 20 de junho de 2009

Escrita automática - poesia - movimento

Visando dar expressão ao inconsciente dos criadores intérpretes, assim como, coletar material imagético para a composição das células coreográficas, foi-lhes pedido que compusessem poemas através da "escrita automática".
Uma vez que estas imagens afloram do inconsciente (vácuo quântico), elas trazem em si não só a expressão individual, mas também coletiva. O acesso ao inconsciente permiti-nos tocar as membranas destas bolhas multidimensionais (Teoria M) e transformar esta experiência em palavras através de arquétipos.


"Acordei de olhos fechados para que nem um sonho me escapasse. Cega, quase fui atropelada pela vida quando, na parada de ônibus, esperava minha bicicleta vir me buscar (preciso enxugar os ouvidos!).

Escondi os relógios da minha cidade para que o tempo não achasse como passar por mim. Assim não teria como esquecer, e não esquecendo não precisaria lembrar – lembrar é algo muito difícil para quem, no caminho de outros, perdera a esperança.

Há lembranças, porém, que não merecem ser lembradas. As minhas dei todas a um cão, dono e proprietário do apartamento de cima: era seu dia de natal e eu, sem presente, passado ou futuro, ofereci-lhe lembrancinhas. Ele as comeu e sua barba nunca mais parou de crescer, mais ainda quando as aparava. Há esperanças que não merecem ser esperadas.Se fosse eu quem as tivesse jantado, com café frio e adoçante, teria para sempre os olhos a vazar – e de certo estaria inaugurando o mar. Afogado por esse oceano, meu peito logo abortaria o pé de saudade roxa que nele fora plantado e enraizado.

Por isso olho para os lados e para o céu antes de sair de casa (caso eu esteja dormindo), seco o corpo com fotografias antigas após cada banho e tenho alergia a calendários. Para que tantos dias?

Só preciso de uma noite para esquecer de lembrar e, acordando de olhos fechados, continuar sonhando."

Elis Costa (fragmento de texto)
Em 15/06/2009
Para o processo de
Be – experimento quântico nº 4

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