sexta-feira, 26 de junho de 2009

A oito mãos

O PARTO


Esse ano, eu não comi bolo de molho. Molho de chuva. Os pés molhados encantados por uma certa orca marinha. Mas, o molho que se encontrava no bolo estava dentro da barriga da orca.

Gosto de comer bolo para emagrecer, e minha energia diminuir proporcionalmente ao triângulo da velocidade da luz. Luz de vela. Só assim conseguiria plantar o meu pé molhado de sorriso de orca e turnê abortada de Michael Jackson.


Cresci, cresci e não entendia a razão, o pé de cabelo estagnou minha lógica. Cabelo que era black ficou liso, Michael Jackson que era preto e ficou branco, que tinha nariz alargado e ficou afilado.

Fui uma vez ao seu show e dancei nas estrelas ao som de Billie Jean com os pés molhados de bolo de lágrimas. Sou feliz quando danço nas estrelas: eu e meus iliopsoas alongados.


Atravesso o céu, mar e terra. Com o dedo do pé aliso o Mar Morto, morto para você, meu bem, que é áspero feito pedra pome. Você, meu Michael, vamos dançar juntos? Com os isquiotibiais, os iliopsoas e todos os músculos alongados como seus cabelos. Vamos Michael? Com aquela tua jaqueta brilhante e aquela tua luva de diamante e com teus sapatos computadorizados que nos fazem escorregar para trás. Sapatos com chips, fótons e bolos de elétrons prontos para dançar e partir a barriga da orca que mora no mar morto e o pé de bye bye.


Por todos os intérpretes

para o processo de Be....


Sobre o processo

Neste processo coreográfico decidi utilizar a forma escrita de expressão como atalho para os movimentos. São duas as vias de acesso ao poder criativo dos intérpretes, os Haikais, como forma de síntese, de canalização de sentidos por uma via que os estimule a organizar pensamentos e imagens, e a escrita automática, tão utilizada pelos surrealistas e psicanalistas como forma de acesso ao inconsciente. Por um lado tento a condensação de conceitos e idéias e por outro a expansão de imagens inconscientes, ambas são traduzidas em movimentos através de improvisações dirigidas. Observo que para a maioria, a capacidade de síntese é mais difícil, porém quando é pedido que simplesmente dêem vazão às imagens do inconsciente a través da escrita automática eles desenvolvem melhor.

Como abordar a física quântica com suas teorias tão complexas, a teoria da sincronicidade, teoria do caos e a aleatoriedade através do movimento? Decidi não trabalhar com dança teatro, que é um terreno conhecido para mim. Se for para ser desafio tem de ser coletivo. Estamos todos tentando encontrar juntos formas coerentes de corporificar conceitos abstratos e concretos através da improvisação, utilizando sempre uma estrutura poética como base. Normalmente em dança teatro a “ação” é base das improvisações e estas já carregam em si significados bem definidos ou codificados. O desafio aqui é justamente a utilização de movimentos que não expressem ações, mas que tenham uma forma mais subjetiva ou abstrata de representar as imagens utilizadas como bases para as improvisações.

No decorrer do processo nos surpreendemos com a agilidade e rapidez com que as células coreográficas estão criando vida. Todo este material será utilizado no design da coreografia e na estruturação cênica do espetáculo.

Gosto de trabalhar com improvisações dirigidas, pois elas oferecem ao intérprete a possibilidade de ser cocriador do processo, e por conseqüência se envolver mais com ele. Uma vez que as células coreográficas estão prontas começa o meu trabalho de estruturá-las dentro da minha visão geral do espetáculo.

O trabalho em conjunto está acontecendo de forma fluida e prazerosa. Fico satisfeito e feliz com o grau de entrega destes intérpretes criadores tão criativos e talentosos que se doam inteiramente ao processo.

Por Quark Insano
Para o processo de Be – Experimento Quântico N. 4

Em 26.06.09

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Quantic Tarantino

Acaba o espetáculo, pausa para lavar o rosto e se recompor, logo ali pertinho encontra-se um homem usando uma capa preta e óculos escuros, não é o neo do matrix, é um objeto ainda não identificado.
Aproveitando um momento de distração este objeto não identificado, me leva em seu cavalo preto, a 200 por hora, fomos comer sushi e adentramos em um bar freqüentado pela máfia chinesa. O sushi servido era de carne humana e o enfeite do prato principal era dentes de tubarão acompanhado por uma bebida facilmente identificável (cerveja).
Depois de comer aquela mistura que causava tontura e deixava os dentes vermelho sangue, nos lançamos um ao encontro do outro, como mágica fomos parar no andar de um prédio mal assombrado, com o teto baixo e alguns corpos pendurados sobre a parede, a fricção aconteceu, sem olhos nos olhos, sem nenhuma poesia a ser dita ou escutada.
E assim aos poucos eu identificava este objeto. Passou-se sete dias, sete meses, sete anos, sete casas, sete sentidos, (além dos 5 existentes os outros dois eram segredos secretos, que só me couberam saber).
Pronto estava resolvido, a imagem deste objeto era feia, nojenta, com um aspecto de mendigo. Ele se aproximou de mim, doente, pedindo ajuda. E eu? Eu o matei com um celular e um e-mail... Ao ver, ele desintegrou-se, evaporou, deixando o ar mais limpo, a leveza voltou a ser insustentável e o sol saiu vermelho-rosa, gritando de felicidade ao ver o objeto jogado logo ali no chão...


escrito por Janaina Gomes
Be- experimento quântico N.4

Escrita automática

Mesmo dentro de tudo acordo com os pés em cima e em baixo, rodar, rodar, não faz sentido para uma velha roda gigante. Num fundo poço aberto flutuam algodões doces provenientes do liquido encefálico do gigante adormecido em minha eterna mente aquosa. Cor de laranja ouro, laranja é ouro na terra dos limões azedos, prefacio é o começo o fim sou eu quando minha perna quebrar, longos os sonos e sonhos acordados de imediato por alguém tão ansioso quanto eu, você e mais uma manada de macacos saltitantes em busca do reino perdido das bananas.

Os pés no chão, digo não a realidade dos percevejos cheiro provocante que não sai da roupa num único instante, pés na água umedecem um pouco a alma jogar amarelinha pensando no amor faz um turbilhão no coração e na mente.


Subindo pelas paredes, não sou lagartixa, não sou lagartixa! Me envolvendo pelos lugares que são doces, festa do pirulito na casa da Aninha vai ser dez vezes, mais algodão no ouvido enquanto a cera escorre escorrego num mundo perfeito escorregando pelo cachorro que cresce sem parar e cão de guarda que vira, defendendo-me dos perigos da terra, esta que habita sustenta rodando mais uma vez e aquela amarelinha com o amor preso no coração, solte-o o mais rápido possível, vai entupir tuas artérias e o sangue ruim subir pro teu leite encefálico de razões.

Louco por amores daquele que passa.... mãos me insinuam coisas, será que passando manteiga escorrego mais fácil nos pensamentos dele que carrega aquela bandeja de feijoada. Coco ralado parece neve em dia nublado ou é realidade da minha encefalite, encosta num penhasco e fica se balançando a formiga me empurra e caio deliciosamente num vazio vejo tudo do mesmo modo duas vezes a terceira mora alguém do meu lado e me observa, olhos de vidro rodeiam todo espaço, escolho roupas a contra gosto, gosto dos outros e os olhos vidrados que parecem vidro lembram espelhos colocados inversamente para me enganar e enganar alguém ou você que não para de me olhar, esperando a perna? Cabeluda!! hauhuahuaha.... O braço? O corpo perfeito. jogos para o lado de dentro são chamados de egos, louco por um cabelo, não carequinha!! Ao longe vejo um palhaço que incansavelmente tenta dançar em cima de um disco de vinil...

Por Gervásio Braz para o processo de Be - Experimento Quântico N. 4

em 25.06.09

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Haikais de outros autores

inverno
é tudo que sinto
viver é sucinto

quem me dera
até para a flor no vaso
um dia chega a primavera

Paulo Leminski


Casa fechada
Inverno não-próspero
Chuva cai triste.

Antonio Ladeira

Alguns haikais

Terra prometida
Que molhada gera
Dos frutos a vida

Chuva que cai
Lembranças que vêm
A saudade fica


Tudo quieto aqui
Silêncio e mansidão
Inverno eu sou

Patricia

Escrita automática - 18/06

No dia em que o céu caiu, eu comi todos os meus sonhos não lembrados, um a um.
E as borboletas voavam dentro da minha boca.
Eu saí pela rua vestida de sol e nua de vontades, enquanto meu pulmão esmolava um pouco de realidade.
Os meus cabelos cresceram misturados às arvores da fazenda do meu tio, e o pulso ainda pulsa, pulsa, pulsa e puxa os sonhos ainda não sonhados, mas já lembrados todos os dias.
Meus pensamentos deram um soco no lutador de boxe que chorava pedras de quartzo. Elas eram bonitas porque tinham o gosto de vôo com asas de cetim.
E quando me cansei, eu corri até aqui para contar até 8. E sete, oito....

Patricia

Haikai quântico e insone

Onda, partícula
Ao mesmo tempo
Energia e movimento

Patricia

sábado, 20 de junho de 2009

Pó de estrelas

Todos os dias quando abro os olhos e penso que estou acordado me surpreendo com as minhas fantasias, pois sem medo nem vergonha elas parecem todas virem de um poço profundo a qual chamo de meu amor. Estes turbilhões de imagens que se apresentam na forma de bolhas de sabão começam a aparecer de todos os lados, colidir e dar origem a enormes big-bangs multicoloridos que explodem ao se olhar para eles mais atentamente. Fico ali parado tentando tocar estes fenômenos psíquicos de alta voltagem e vê-los explodir cada vez que entram em contato com a minha consciência. Levanto-me e tento levar um dia assim normal, com cuscuz e passagens de ônibus, mas eles continuam correndo atrás de mim e gritando por todos os nomes que tive e terei nos universos paralelos onde habito. Queria dizer para eles que não sou o criador de tudo isto e que eles me deixem em paz, mas a beleza daquele multicolorido vai me hipnotizando eu termino cedendo e começo a viajar pelos mundos invisíveis de minha própria imaginação. Quase como mágica me vejo flutuando em universos paralelos e jogando paciência com astronautas perdidos no espaço, eles me contam histórias, mas alegam não as terem criado que são apenas contos infantis que ales ouviram quando já eram bem velhinhos. Fico lá olhando eles no microscópio e tentando achar lógica nas imagens que vejo em suas mini TVs quadrimensionais. Eles fingem que vão dormir, pois se sentem invadidos pela minha curiosidade e eu como não sou mal educado permito que eles continuem com aquela mentira e me deixo cair em um buraco negro quase roxo com tons esmeralda fluorescente que passa por ali naquele exato momento na velocidade da luz dirigindo uma de bicicleta cheia de pisca-piscas. O motorista do buraco negro me diz que eu sou a primeiro quark em 10 bilhões de anos luz que decide dar uma voltinha com ele e eu fico meio sem graça com aquele desabafo, mas continuo na minha, mas ele insistentemente continua puxando papo e querendo saber de que universo eu venho, qual a minha composição química, qual a freqüência das minhas ondas mentais, uma intimidade que eu não estava pronto para dividir com ele, e como não quero revelar minha identidade super super secretíssima, digo a ele que sou primo de Nemo , tio avo da branca de neve, padrasto de Harry Potter e primo distante da Bjork, rele se dá por satisfeito, pois consegue ver claramente as semelhanças entre eu e meus parentes. Um vácuo quântico completamente embriagado de cicuta cruza o nosso caminho e o motorista cibernético freia abruptamente, me lançando pelo menos 5 mil anos luz no futuro. Ao chegar lá ainda todo empoeirado da viajem percebo que está havendo uma grande Rave multidimensional muito louca com seres de todos os confins do universo, cápsulas anti matéria para se jogar conversa fora, Dj angelicais tocando ondas vibratórias com 87 notas musicais, drogas legalizadas que permitem você ser você mesmo por 24 horas, e uma porção de bailarinos venusianos com roupas feitas de protoplasma, estava tudo uma belezura super animado, quando me dirijo a máquina do tempo para pegar um drink….. …..ai não!!!!!! Aquele plutoniano careta de novo, na última festa ele entrou em um átomo do meu fígado e eu tive que passar um mês na reabilitação para seres possuídos por plutonianos, e só consegui me livrar dele através de injeções muito dolorosas de extrato de macaíba. Ao tentar sair de fininho daquela festa percebi que minha consciência estava todinha emaranhada com a de um curto circuito cósmico que estava na sala de vídeo games. Pedi a ele gentilmente que se desemaranhasse de mim, mas ele parecia nem ligar para os meus apelos, curto-circuito cósmicos são assim sempre muito displicentes, foi ai que resolvi ser grosso com ele e chamei a garçonete que pairava no ar como um balão de gás hélio, ela lhe aplicou um sedativo em forma de microchip, funcionou maravilhosamente, pois nossas consciências se separaram. O estranho é que depois deste acontecimento tenho sempre a impressão que estou em dois mundos ao mesmo tempo. Está experiência é algo que pode provocar uma tremenda enxaqueca, pois os 11 hemisférios do meu cérebro começam a brincar de amarelinha e o barulho dos sapatos no assoalho de cristal da base do meu crânio provoca um barulho ensurdecedor. Acho melhor tirar uma soneca aqui nesta nebulosa antes que meus fótons comecem a se espalhar por esta galáxia, vai dar um trabalhão juntar tudo de novo.

Por Quark Insano em 20.06.09
Para o processo de Be - Experimento Quântico N. 4